Desenho III

DESENHOS DE LUZ E COM LUZ

Ver a luz como atmosfera

Os movimentos da luz para a sombra

Tonalidade e expressão

O desenho como laboratório para compreender as representações da luz

A luz – e a sua ausência parcial, a sombra  – são condições da própria visão. Geralmente percebemo-las como propriedades dos objetos que por elas são moldados, como a sombra própria e projetada de um muro, ou então dos objetos que as emitem: faróis, lâmpadas, projetores, estrelas. Raramente as percecionamos como realidades em si mesmo. A exceção ocorre na observação científica – quando a luz, na forma de onda ou partícula, se torna o objeto de estudo, sujeita a trajetórias no espaço e escalas de medição.

A outra exceção acontece quando existe uma imersão do observador num espaço onde os objetos estão ausentes, os contornos indefinidos e as margens difusas. Esta experiência pode ser radical em cenários como o ganzfeld (do alemão que significa “campo total”), e que correspondem a campos visuais privados de contornos, semelhantes à perceção que temos se nos imaginarmos perdidos num barco no meio do nevoeiro. Mas ocorre também a outra escala, como em certos fenómenos atmosféricos em espaços abertos, projeções de luz ou mesmo em espaços fechados com fracas condições lumínicas, apenas quebrados pela luz de frinchas ou janelas.

É em torno destas últimas situações que estes desenhos se desenvolvem.

Este trabalho procura ver no desenho um laboratório para compreender os movimentos da luz para a sombra, e da sombra para luz.

Através do desenho, procuramos abordar algumas das questões associadas ao desenho da luz. Desenhando, verificamos uma relação estreita entre a mancha e a sombra, entre a linha e a luz. Em parte, porque as sombras não se manifestam pelos seus contornos, mas pelas suas margens. Ao contrário, a linha surge como uma resposta do pensamento para compreender.

Esta associação revela de que forma a nossa perceção é também moldada pelas imagens metafóricas da sombra e da luz.