Como ideia inicial, decidi utilizar processos naturais, eletrónicos e digitais para criar um “jantar íntimo” entre desconhecidos: através de vários piezos presos estrategicamente ao meu corpo, qualquer pessoa conseguiria ouvir a comida a ser mastigada e digerida por mim. O meu objetivo inicial foi ligar estes piezos a uma interface, e essa interface ao meu computador com efeitos em tempo real dentro do programa Max MSP, para depois os sons (já com os efeitos) serem projetados em duas colunas stereo. A inspiração principal para esta ideia foi uma página web da artista Lauren Hollowday, onde além de ensinar como se constrói um microfone de contacto, mostra também exemplos onde ela utiliza esse microfone enquanto engole, tosse e respira. Pesquisei também acerca do artista Stelarc, como sugestão do professor.
Com um dos microfones de contacto construídos comecei a testar em diferentes partes do meu corpo, mas sem sucesso, pois não havia vibração suficiente para o microfone captar som. Como cheguei à conclusão que esta ideia não iria resultar, comecei a pensar em novas estratégias.
Para a segunda ideia, decidi continuar a trabalhar com sons corporais, tal como mastigar, engolir e respirar. Deixei de utilizar processos eletrónicos e sim apenas naturais e digitais, trocando os piezos por um microfone “shotgun” ligado a uma interface. Pesquisei referências de pessoas que trabalham com estes sons corporais enquanto comem, e descobri o termo “mukbang” para videos ao vivo na internet, onde pessoas interagem com um público por chat enquanto comem grandes doses de comida. Este tipo de entretenimento tornou-se popular no final dos anos 2000 na Coreia do Sul. Vários canais no YouTube ganham milhões de visualizações por vídeo apenas por realizar esta atividade.
Quanto aos efeitos sonoros exagerados enquanto comia, pesquisei acerca do termo “ASMR”, ou “Autonomous Sensory Meridian Response”, onde o espectador tem uma reação de parestesia a um estímulo sensorial (no meu caso, os sons detalhados da comida, do meu corpo e do ambiente ao redor).
Já desde o início que quis trabalhar com efeitos de loop no Max MSP para acompanhar os sons corporais, mas como nunca tinha trabalhado antes com o programa, tentei criar primeiro efeitos numa mesa de mistura digital. Não fiquei satisfeito com o resultado, pois pareceu bastante simples, então decidi pedir ajuda a amigos do terceiro ano de Multimédia para a realização de um patch. Escolhi criar três loop points com atraso de 2 segundos entre cada um deles, e para o patch funcionar instalei a extensão SDT, ou “Sound Design Toolkit”. Com o patch realizado, comecei a montar os equipamentos necessários: microfone shotgun ligado a um interface, e o interface ligado a duas colunas stereo e ao meu computador. Dentro do Max MSP, mudei as configurações de áudio e coloquei o input e output na interface U-Phoria UMC404HD.
Com a parte digital completa, comecei a pensar em diferentes abordagens estéticas e sonoras para a minha perfomance. Utilizei uma toalha de cozinha pessoal, como também um copo e uma travessa de forno onde coloquei uma cenoura, morangos com chantilly, bolachas de arroz, Cheetos, tostas com manteiga e uma maçã. Escolhi estes ingredientes pois são ruidosos ao trincar, o que foi uma grande vantagem para a minha performance. Para beber comprei duas latas de Schweppes, e utilizei uma peruca para simular um “alter ego comilão”. Arrependo-me de não ter aprofundado esta ideia de alter ego, podendo ter mudado também a minha roupa, como também o facto da performance ter durado cerca de 8 minutos e não ter comido tudo que tinha colocado na travessa.
Links (pesquisa):
https://laurenhollowday.wordpress.com/2014/02/02/sound-art-contact-microphone/
https://en.wikipedia.org/wiki/Mukbang
https://www.youtube.com/watch?v=zmV22KtRfYA&ab_channel=문복희EatwithBoki
https://en.wikipedia.org/wiki/ASMR
https://en.wikipedia.org/wiki/Paresthesia
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