PIQUENIQUES, 2022
Miguel Ferreira
Eu iniciei este projeto às cegas, com pouco conhecimento
e/ou informação acerca deste mundo chamado sound art. Requisitei então, Background noise :
perspectives on sound art, de LaBelle Brandon.
Christina Kubisch, Alvin Lucier, Christof Migone,
Maryanne Amacher, inclusive o projeto City Links Series da mesma, foram nomes
que me ficaram e pesquisei sobre. Porém, Hildegard Westerkamp fascinou-me
imenso, o seu processo e esquema de trabalho integra, principalmente, as gravações
de campo. Algo que aprecio muito e a crueza com que as apresenta, nisto
forma-se as soundscapes, quando utilizamos o som para criar uma narrativa.
Decidi, então, realizar algo que se encaixasse nesse campo, com as gravações e
acústicos da natureza.
Explorei a ideia através de sons gravados amadoramente com o microfone dos meus
auscultadores. Inicialmente, apenas como experiência para perceber as
sonoridades com que estava a lidar. Logo, apercebi-me de todos os ruídos de
fundo e distrações presentes nas minhas gravações. Deste modo, requisitei um
Gravador H2N e capturei os sons diurnos numa madrugada de sábado, os sinos
distantes, os pássaros solitários a chilrar, a dança coordenada com o vento as
árvores, poças abandonadas na terra batida e etc… Um dos sons favoritos que eu
captei foi um jantar num restaurante barulhento e cheio, o tilintar dos
talheres e copos junto com os murmúrios e risadas coletivas enquanto emanava-se
um sentimento de integridade.
Os livros e toda a dimensão da escrita é um mundo imenso
para mim, é uma das formas de expressão que me é mais próxima. Assim que surgiu
esta oportunidade de materializar e sonorizar este universo agarrou-me logo
pela mão e não pensei duas vezes. No principio, a utilização do livro como um
elemento visual foi a única coisa que me ocorreu. Eu tenho vaga memória de ver
um projeto de uma artista dos anos 90 da qual já não me lembro do nome em que
eram imensos livros abertos e colados ao soalho, colocados em aglomerados de
telhados de casas e prédios numa tarde solarenga de verão. Esta imagem
ocorreu-me instantaneamente e então coloquei 4 livros meus muito especiais e
utilizei uma ventoinha giratória causando o virar das páginas. Apenas à medida
que fui progredindo é que utilizei os mesmos como meio de som.
Deste modo, utilizei o Audacity e Max para criar a
mistura que é tocado no fundo, incluindo um microfone pontual, conseguindo
captar o som das páginas dos livros e uma ventoinha para causar o virar e
passagem pelas diferentes folhas.
O poema que recito foi inteiramente escrito por mim,
desde há algum tempo, a expressão escrita é um dos meus amores, digo eu, e
sempre que consigo incluo-a nos meus trabalhos.
O limiar entre a escrita e o som em algo tão frágil quanto
páginas, deitadas em toalhas de lã. O refletir e ecoar no espaço entrega uma
dimensão de desejos e pensamento.
O mais difícil neste projeto foi encontrar um
posicionamento dos livros que fizesse as páginas virarem constantemente. Apenas
nas datas finais, é que consegui, com muito esforço.
Das pessoas que me ajudaram foi, principalmente Jorge
Xavier, o qual não estuda nas Belas Artes, Laura Nunes do segundo ano do curso
de Artes Plásticas- Pintura, Diana Amadeu, Gabriela Miranda, Júlia Furtado,
algumas pessoas do terceiro ano de Multimédia e à técnica Patrícia que me auxiliou
sobretudo, nestas voltas e revoltas de equipamento.
Gostava de agradecer a todos mas especialmente ao
professor, por me dar esta oportunidade de colocar as minhas ideias e
pensamentos expostos.
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Das pessoas que me ajudaram foi, principalmente Jorge Xavier, o qual não estuda nas Belas Artes, Laura Nunes do segundo ano do curso de Artes Plásticas- Pintura, Diana Amadeu, Gabriela Miranda, Júlia Furtado, algumas pessoas do terceiro ano de Multimédia e à técnica Patrícia que me auxiliou sobretudo, nestas voltas e revoltas de equipamento. Gostava de agradecer a todos mas especialmente ao professor, por me dar esta oportunidade de colocar as minhas ideias e pensamentos expostos.
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