Nome: da palavra movimento aglutinando com a palavra mente. O movimento que a mente perceciona através da audição.
Do meu caderno de devaneios: “Dança é essencialmente um tipo de arte ligada ao visual. Ao áudio também, mas, notoriamente, na vertente da música ao som da qual se dança. Procura-se geralmente num espetáculo de dança abafar, ignorar, reduzir ao máximo o som manifestado pelo movimento produzido pelo corpo. Exemplo disso é o bater das (sapatilhas de) pontas quando são novas, estalá-las nas portas para as amolecer, não apenas por uma questão de conforto, mas também para produzirem a menor quantidade de som possível permitindo assim aos espectadores o foco na parte visual do movimento. Então, procurei inverter estes papeis. Explorar o lado da dança sensorial, o sentido háptico, cegando temporariamente os espectadores, ocultando o visual e salientando o auditivo. Sentir o contacto do corpo vs superfície e respiração vs tempo. Absorver uma arte visual através da audição.” Posto isto, realizei uma instalação que consistia na colocação de quatro altifalantes cada um num vértice de um quadrado que desenhei no chão. Os mesmo reproduziam uma gravação de quatro canais de uma dança com o objetivo de transmitir a ideia de espaço, sendo esse quadrado símbolo da sala onde se realizou a dança.
PROCESSO Fase 1: Reflexão sobre os métodos a utilizar, materiais, espaço, tempo. Performance vs instalação. A
ideia inicial era realizar uma performance, ter uma bailarina em tempo real a executar
os movimentos numa sala que estaria com microfones e ter os ouvintes numa sala
distinta, separada da supracitada, com quatro colunas cada uma num dos cantos
da sala. Entretanto, esta ideia começou a soar-me inalcançável devido à
dificuldade que tive em arranjar um espaço que possuísse duas salas juntas (que
me permitissem passar cabos de uma para a outra) mas independentes. Por este
motivo, esta ideia caiu por terra e optei por realizar uma instalação com
gravação prévia e pós reprodução. Feita também a pesquisa de material
apercebi-me que a minha ideia original (utilização de 4 piezos electro cerâmicos)
não iria ser tão efetiva uma vez que este tipo de microfone capta
essencialmente as vibrações e eu procurava captar sons. Ao encontro disto vem a
ideia inicial de colocar um microfone de lapela na bailarina que, por sua vez,
também caiu por terra uma vez que eu não tinha acesso a um rádio e que todos os
fios iriam interferir nos movimentos da Beatriz. Fase 2: Requisição do material. Material utilizado: Um microfone stereo (Shure VP88), dois cabos XLR, uma interface de quatro canais, 4 altifalantes e 4 cabos XLR Jack Fase 3: Gravação da dança. Num espaço amplo que ecoava e tendo como bailarina Beatriz Prada Portela, coloquei sobre uma caixa de cartão um microfone Shure VP88 perpendicular a duas paredes e paralelo às outras duas. Liguei o microfone a dois canais imput da interface que, por sua vez, liguei ao computador, permitindo-me assim gravar a ocorrência através da aplicação Audacity. Enquanto a Beatriz dançava eu regulava na interface os volumes de cada canal para intensificar a noção de esquerda e direita. Fase 4: Copiar a gravação para outras duas pistas de áudio ainda na mesma página de gravação para obter duas faixas esquerdas e duas faixas direitas. Fiquei assim com quatro faixas para reproduzir respetivamente nas quatro colunas. Exportar a gravação realizada no Audacity para um áudio de quatro canais. O primeiro canal corresponde à coluna da esquerda frente, o segundo canal à coluna direita frente, o terceiro canal à coluna esquerda trás e o quarto canal à coluna direita trás. Ocorreu-me
nesta fase a ideia de transformar a minha instalação em algo constante tornado
o áudio num loop (recorreria ao Max 8). Mas rapidamente esta ideia desapareceu.
Uma dança não é algo eterno, tem um princípio, meio e fim. E foi isso que eu
quis transmitir, montei o espaço, a sala onde viria a decorrer a dança
fantasma, mas o som do movimento em si teve um princípio, meio e fim. Tal como
uma dança. Fase 5: Montar a instalação. No hall entre a cantina e o auditório da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto no piso -1 do Pavilhão Sul, com fita cola preta formar no chão um polígono de 4 ladrilhos por 5 e marcar o centro. Esta marcação do espaço serve para simbolizar o espaço onde ocorreu a dança. (Na sala de ensaios da academia em que eu andava existiam diversas marcações a fita adesiva no chão para marcar posições e locais específicos da sala a ocupar. A utilização da fita cola no chão neste projeto remete para essa minha vivência.) Ligar a interface ao computador e os altifalantes à interface com cabos XLR Jack (a ponta XLR ligava aos altifalantes e a ponta Jack ligava à interface nos Playback Outputs). Colocar as colunas nos vértices do polígono e ligá-las à corrente. Por último, colocar o áudio a tocar para, assim, se poder assistir a uma espécie de performance a decorrer numa instalação. |
FICHA TÉCNICA Autora: Rita Falcão Professor orientador: André Rangel Fornecimento de material de som e auxílio nas decisões sobre o mesmo: Patrícia Almeida Bailarina: Beatriz Prada Portela Gravação da dança: Rita Falcão Captação de imagem: Rita Falcão, Beatriz Prada Portela (com o auxílio de Diana Amadeu) Auxílio de transporte de material e montagem da instalação: Ana Miranda, Maria Inês Ribeiro, Samuel SilvaAuxílio a desmontar: Miguel
Ferreira, Laura Nunes, Anaís Abel, Gabriela Miranda, André Santos, Rafaela Paraná
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