Contexto/intenções da obra: Inicialmente, num debate de ideias, o conceito principal da obra seria a confeção do pénis em larga escala (num contexto humorístico/provocatório), porém acabou por evoluir para a representação da vulva/vagina; a partir do mesmo, surgiram várias ideias associadas a como é que o projeto poderia ter o carácter interativo e que estimulasse os sentidos visuais/auditivos, utilizando o Arduino. Hipóteses como a vulva “comer” o espectador interativo ou até libertar algo quando se entrasse em contacto com ela foram sugeridas, mas acabaram por ficar no papel. A partir desta ideia base, foi realizado um brainstorming de potenciais questões que poderiam ser incluídas na obra, como o exemplo do feminismo, da libertação da mulher, do sistema patriarcal, entre outros vários temas pertinentes da nossa sociedade contemporânea. Ao fim de alguma discussão e troca de impressões, chegamos ao tema nuclear da obra: a cultura da violação. A cultura da violação consiste na normalização da violência sexual em variados contextos e, a partir de um gráfico piramidal* com os valores associados à mesma, começamos então a explorar formas de transmitir esta temática para um projeto artístico. Dada a severidade do tema (e como referido anteriormente, a sua definição por si fala volumes), procuramos abordar a questão de uma forma direta, sem quaisquer filtros, e até mesmo algo que poderia ser considerado “chocante”; de acordo com os valores de todos os membros do grupo, as questões que mais ferem a nossa sociedade não podem ser abordadas com panos quentes e gentileza (sendo esta só exclusiva para as vítimas desta cultura), mas sim com a rigidez e com uma resposta adequada e proporcional ao problema, que é utilizar o fator de choque para alertar as pessoas e fazê-las refletirem sobre a questão, até poderem mudar atitudes (diretas ou indiretas) que possam fazer (ou fazem) parte da grande problemática. O simbolismo da vulva representa o género mais afetado pela violência sexual, o feminino, e quaisquer outras pessoas que se apresentam e/ou identificam como mulheres que sofrem diariamente. Outros indivíduos de outros sexos e identidades de género também sofrem, mas os seus números são relativamente inferiores comparados a todos que se associam à feminidade (em todas as suas formas). Quando chegamos à fase dos esboços da obra e como é que ela interagia no espaço, voltamos brevemente aos conceitos anteriores, porém chegamos à conclusão que seriam demasiado complicados para executar no “curto” período de tempo disponível. Ao fim de outro debate, chegamos à seguinte conclusão: o espectador, ao inserir a sua cabeça no interior da vulva, iria ativar o sensor de distância e o Arduino ao qual está conectado, que contém o código que provoca a reprodução de vários áudios; nos ditos áudios, é possível ouvir-se vários testemunhos de vítimas (conhecidos e amigos de cada um) da cultura da violação, e as suas respetivas reações com base na audição (por exemplo, o choro) e, enquanto a vulva se encontra em “repouso”, ouve-se num volume baixo o hino feminista “El violador eres tu/Un violador en tu camino”, coreografia realizada pelo grupo feminista chileno “Les Tesis”, que surge num contexto de protestos contra a violência sexual sobre as mulheres em 2019. Em suma, “A Culpa é Sua!!” procura, de uma forma violenta mas com objetivos reflexivos, questionar os valores individuais e conseguir compreender as falhas graves em todos os aspetos da nossa sociedade e como esta contribui para a cultura da violação. A denúncia do patriarcado e a cultura machista, sexista e apologista da violência é de extrema importância para com que a obra seja completa.
Procedimentos e tarefas para a execução da obra: Brainstorming de ideias para a confeção da obra; Debate dessas mesmas ideias; Pesquisa sobre a cultura da violação e de inspirações da obra; Esquematização e realização de esboços da componente física da obra Reflexão sobre o que seria executável e mais prático consoante as circunstâncias; Pesquisa dos materiais necessários após a reflexão; Compra dos materiais necessários; Divisão da tábua de madeira em duas partes cortadas na diagonal (base de apoio da vulva); Costura dos tecidos em formato dos vários elementos anatómicos que constituem a vulva (lábios maiores e menores, clitóris, capuz, abertura vaginal); Criação do código para a componente da programação do Arduino; Procura dos sons que são reproduzidos aquando a inserção da cabeça do espectador na abertura vaginal; Colocação dos sons em sintonia com o código da aplicação Max (sons gerados aleatoriamente a cada interação com a obra, inseridos numa playlist); Exportação do código do software Max para o sistema Arduino e o seu hardware correspondente; Teste do sensor de distância face ao surgimento do movimento (e se ativa efetivamente os sons); Junção dos tecidos com o arame em formato de “esqueleto” dos lábios; Erguer da base triangular, que é unida a partir de pregos e de esquadros perfurados (para estabilização); Inserção do tecido base sobre a abertura da base de madeira; Colocação dos tecidos unidos ao esqueleto sobre o tecido e a base; Colocação de um espelho redondo a representar o clitóris; Instalação do sensor de distância no interior da base de madeira; Instalação do computador, cobertores e luzes no interior da base triangular; Testes finais para a confirmação da funcionalidade da obra.
Materiais utilizados: Tábua de madeira, recortada diagonalmente para a construção da base da obra; Variados tecidos com variadas texturas e cores, para a representação da vulva; Arame para construir o “esqueleto” em que os tecidos se inserem; Pregos e esquadro perfurado; Broca de perfuração; Arduino; Sensor de distância Coluna JBL Charge 4; Cobertores vermelhos; Luzes de fada; Espelho redondo; MacBook Pro 2020, 13” (fonte de alimentação do Arduino e com o código do software Max); Software Max.
Pessoas envolvidas na produção: Brenda Franco, Gabriela Chinchila, Gabriel Holanda e Íris Sobral (membros do grupo); Professor André Rangel (feedback). * imagem do gráfico piramidal da cultura da violação mencionado:

|